Por Ana Cláudia Freire, Diretora de Gente da Infotec Brasil
O conceito de Employee Experience (EX) ganha cada vez mais relevância no mercado. Este conceito foca na criação de uma experiência memorável e engajadora para os colaboradores em todas as etapas de sua jornada na empresa, desde a atração até o onboarding, o desenvolvimento até o fechamento do ciclo com o desligamento. Engajar colaboradores na sua marca não é uma tarefa simples, especialmente em mercados como a terceirização, onde o colaborador está 100% atuante nas bases do seu cliente, convivendo com sua marca e cultura organizacional.
Em termos gerais, as empresas especializadas em Terceirização de Serviços, Processos e Pessoas oferecem serviços que permitem que seus clientes — no nosso caso, grandes players dos segmentos de Óleo e Gás, Energia e Mineração & Siderurgia — mantenham foco em suas principais estratégias de negócio enquanto cuidamos da execução. Assim, promovemos a redução de riscos, tornando os processos mais eficientes, resguardando a excelência, os custos mais competitivos, com menor risco trabalhista e baixo absenteísmo.
Embora o formato de terceirização proporcione a maximização de performance, agilidade e flexibilidade na busca por objetivos, há desafios significativos na implementação da cultura organizacional neste modelo de negócio. Gerir pessoas nunca é simples, e quando se trata de terceirizados, a complexidade aumenta consideravelmente. Muitas vezes contratados por períodos determinados, esses profissionais pontuam sobre a necessidade de um plano de carreira e temem ser dispensados ao término do contrato, substituídos por outra empresa. Mas é possível desmistificar esse pensamento.
Dentro da nossa experiência em Gestão de Gente em empresas de terceirização, acreditamos na importância de olhar para o colaborador de uma forma mais completa, vendo-o além do crachá. Isso já é uma premissa pelo próprio propósito da área de Gente nas organizações, mas em empresas de terceirização, isso se torna ainda mais imperativo. O colaborador não pode ser apenas um número dentre tantos prestando serviço nas bases dos clientes. É preciso enxergá-lo como um profissional que merece ter uma experiência memorável com a empresa com a empresa que o contratou. É preciso implementar a experiência de ser parte integrante da empresa da qual ele está vinculado. É aquela premissa tão falada entre profissionais de RH: é preciso construir um ambiente organizacional no qual os colaboradores queiram trabalhar ao invés de precisarem trabalhar. Em terceirização, isso é uma condição!
Isso quer dizer que a realidade das empresas terceirizadas é bem diferente de outros setores. Por exemplo, dependendo do contrato, às vezes temos apenas 30 dias, ou até menos, para mobilizar equipes inteiras, ou seja, realizar todo o processo desde a atração, passando pela admissão, incluindo exames médicos e indo até a capacitação para que o colaborador esteja pronto para atuar nas bases do cliente. Portanto, envolve muita agilidade e controle das etapas dos processos, o que por si só já é um desafio para proporcionar uma experiência memorável desde a chegada.
Então, como proporcionar o fit cultural nesses casos? O caminho mais fácil (e, infelizmente, ainda muito comum) é não dar importância a isso. “Ah, por que investir na pessoa? Ela ficará comigo por três anos, depois o contrato acaba e a equipe será desmobilizada.” Pensamentos como esse resultam em áreas de Gente focadas apenas em trazer pessoas e manter a equipe trabalhando sob uma liderança que, no máximo, é técnica.
Com isso e, cada vez mais, o mercado (imaginem o de terceirização!) se depara com profissionais com pouca preparação, com competências e potenciais que poderiam ser trabalhados, mas se limitam ao superficial. O que se observa é que falta uma cultura que invista nesses colaboradores e que “enxergue” esses terceirizados, que proporcione essa vivência. Vamos pensar nos clientes. O cliente quer o quê? A resposta já é amplamente conhecida: viver uma experiência. Fazendo um paralelo com o candidato, quem é o candidato? Quem é o colaborador? É um cliente também. Cliente da cultura da empresa. Cliente da Área de Gente, do staff que suporta toda a operação que atua na ponta. Então, cabe à empresa proporcionar essa experiência.
Como exemplo de implementação da Employee Experience, gostaríamos de dividir nossa experiência na Infotec Brasil, empresa que há 38 anos trabalha com terceirizados.Nossa estratégia de Gestão de Gente hoje é totalmente centrada no conceito de EX. Temos inclusive um fluxo traçado que batizamos de “Infotec Ao Seu Lado”, um grande guarda-chuva de iniciativas, desde as mais simbólicas, até as mais elaboradas, que promovem a experiência do colaborador desde a sua chegada. Uma dessas iniciativas é a “Academia Infotec”, lançada em 2022.
Inicialmente, ela foi priorizada para os líderes, capacitando-os de acordo com uma estratégia específica. Acreditamos que todos os gestores, desde os níveis mais altos até os líderes da ponta (aqui chamamos de líderes de contrato), devem entender a importância da capacitação de seus colaboradores. Para isso, optamos que eles vivenciassem essa experiência primeiro. A lógica foi: não podemos validar algo que não conhecemos e experimentamos. Implementamos essa abordagem e, ao longo do tempo, observamos resultados significativos no alinhamento das práticas às competências de gestão da empresa, com reflexo na gestão de equipes, relacionamentos com as áreas de staff e na abordagem a nossos clientes. Todas as camadas de gestão da empresa possuem ações de desenvolvimento específicas que consideram as necessidades e requerimentos de gestão para cada nível.
Após a fase inicial, abrimos a “Academia Infotec” para todos os colaboradores. São mais de 100 conteúdos a partir de uma curadoria que se alinha às competências e também as trilhas técnicas dos colaboradores.Para reforçar a adesão, implementamos uma série de iniciativas, incluindo comunicados, lives e um plano de comunicação interna robusto. Tudo parte do “Infotec ao seu lado”. Assim, transformamos a experiência de aprendizado em algo memorável e impactante para todas as camadas da organização. Desde o início de abril e até a segunda quinzena de maio já tínhamos registrado 4.113 acessos. Para uma empresa com 3.800 colaboradores, esse número de acessos é muito significativo. Assim, transformamos a experiência de aprendizado em algo memorável e impactante para nossos colaboradores na ponta.
Entendemos que muitos desses colaboradores são terceirizados, alguns podem até não fazer mais parte do nosso staff no futuro, mas fizemos a nossa parte. As pessoas se sentem reconhecidas e valorizadas quando a gente investe no desenvolvimento delas. E esse reconhecimento é parte da nossa cultura. Em suma, implementar o conceito de employee experience para terceirizados é um desafio complexo, mas possível. Requer uma visão holística do colaborador, estratégias de retenção eficazes e um esforço contínuo para integrar esses profissionais à cultura da empresa. Na Infotec Brasil, estamos comprometidos com essa missão, convencidos de que colaboradores bem integrados e valorizados são a chave para o sucesso de qualquer organização
É claro que sempre pode surgir o clássico questionamento: “Mas por que investir na formação de profissionais se, no final, outra empresa pode acabar ‘levando’ eles?” Nesses momentos, vale lembrar de uma entrevista que o saudoso Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, concedeu a Marília Gabriela. Quando questionado sobre o valor de investir em pessoas e o risco de perdê-las para a concorrência, ele respondeu: “Eu prefiro formar e exportar talentos do que arcar com o custo de não ter pessoas qualificadas”. Tempos depois, a mesma jornalista entrevistou Eike Batista, então à frente do grupo EBX, e perguntou se ele investia em qualificação. Ele respondeu ironicamente: “Eu não. Eu roubo da Vale”. Basta verificar o status de cada empresa para entender a “moral da história”.
Caminhos diferentes, ambos possíveis. Basta saber o que você espera da sua empresa. Quer ser follower ou líder? Tudo é uma escolha.